Informação
A Licenciatura em Educação Especial e Reabilitação surgiu em 1995, na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa. O Técnico Superior de Educação Especial e Reabilitação (atualmente com a designação de Técnico Superior de Reabilitação Psicomotora), como profissional, domina modelos, técnicas e instrumentos para a avaliação, elaboração de programas de intervenção, intervenção e coordenação de serviços em várias áreas da reabilitação.
A Consulta de Desenvolvimento e Reabilitação Psicomotora faz o acompanhamento de crianças e jovens em idade pediátrica (dos zero aos 18 anos) com alterações do neurodesenvolvimento, problemas comportamentais ou emocionais. Envolve uma articulação direta e constante com as famílias e escolas de modo a assegurar o bem-estar emocional e social das crianças e jovens, ajudando-os a superar dificuldades na aprendizagem, na comunicação, na interação social, na autonomia pessoal, entre outras.
Esta consulta engloba duas vertentes de atuação: a Preventiva/ Educativa e a Reeducativa ou Terapêutica.
A vertente Preventiva e Educativa tem como principal objetivo a promoção e estimulação do desenvolvimento psicomotor e do potencial de aprendizagem. Neste sentido, esta consulta oferece rastreios de desenvolvimento que permitam conhecer o perfil de desenvolvimento da criança, definir orientações específicas e personalizadas de estimulação e de promoção do desenvolvimento global nas diversas etapas de crescimento. Os rastreios podem ser realizados desde o nascimento e são efetuados a partir de uma avaliação informal (ex.: observação direta e “checklist” de desenvolvimento) ou através de uma avaliação formal com a aplicação de escalas padronizadas de desenvolvimento infantil. A avaliação do desenvolvimento infantil permite conhecer as competências da criança nas seguintes áreas: motricidade global, motricidade fina, linguagem recetiva e expressiva, comunicação, cognição não-verbal, cognição verbal, autonomia pessoal, socialização e desenvolvimento emocional.
A vertente Reeducativa ou Terapêutica é utilizada quando o desenvolvimento e aprendizagem estão comprometidos ou quando é necessário ultrapassar problemas relacionais que dificultam a resposta adaptativa da criança ao envolvimento. Na presença de fatores de risco (ex.: prematuridade) que possam condicionar o desenvolvimento psicomotor harmonioso ou quando há suspeita de alterações ao nível do desenvolvimento, comportamento e/ou aprendizagem, a criança ou jovem é observada nesta consulta para esclarecimento do perfil de desenvolvimento. Após estudo da história clínica, familiar e educacional é feita uma avaliação especializada do desenvolvimento e de perturbações do neurodesenvolvimento. Este processo de avaliação permite conhecer o perfil de desenvolvimento da criança (áreas fortes e áreas de maior dificuldade), diagnosticar, definir o plano terapêutico e encaminhar para as especialidades necessárias.
Alguns exemplos de Perturbações do Neurodesenvolvimento:
- Atraso Global do Desenvolvimento
- Perturbações do Desenvolvimento Intelectual (PDI)
- Perturbação do Espetro Autista (PEA);
- Perturbações da Aprendizagem Específica (Dislexia, Disortografia, Disgrafia e Discalculia)
- Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA)
- Perturbação do Desenvolvimento da Coordenação Motora (PDCM)
O plano terapêutico da Consulta de Desenvolvimento e Reabilitação Psicomotora inclui três áreas de intervenção: a Psicomotricidade, o Modelo D.I.R.®/ Floortime™ e o Apoio Psicopedagógico Específico. A área de intervenção é definida consoante as necessidades da criança ou jovem.
Psicomotricidade:
A Psicomotricidade é uma área de conhecimento transdisciplinar que estuda as relações entre as funções psíquicas e a motricidade em diversos contextos, com o objetivo de contribuir para superar problemas de maturação, desenvolvimento, aprendizagem e comportamento, através da intervenção por mediação corporal.
Baseada numa visão holística do ser humano, a Psicomotricidade encara de forma integrada as funções cognitivas, sócioemocionais, simbólicas, psicolinguísticas e motoras, promovendo a capacidade de ser e agir num contexto psicossocial.
A Terapia Psicomotora engloba duas vertentes de intervenção: a Psicomotricidade Instrumental e a Psicomotricidade Relacional.
- Psicomotricidade Instrumental
A Psicomotricidade Instrumental, também conhecida por Funcional, é uma intervenção com maior fundamentação cognitiva e neuropsicológica. Privilegia a intervenção centrada nas situações de resolução de problemas, apelando à descoberta guiada e ao pensamento divergente. As situações são apresentadas em forma de jogo e de forma a serem vividas como situações de êxito, estabelecendo uma relação de confiança e motivação entre a criança e a ação. O recurso à demonstração é reduzido, evitando a imitação, utilizando a mediação cognitiva de forma a favorecer os processos de análise, integração e elaboração da informação, promovendo as capacidades de reflexão, invenção, expressão e transposição, possibilitando a expressão criativa do indivíduo. A verbalização deve ser explorada quer na antecipação da atividade quer na sua avaliação para que a ação seja interiorizada, passando da experiência imediata à tomada de consciência.
A Terapia Psicomotora Instrumental está indicada para bebés, crianças ou jovens com alterações da regulação do tónus muscular, dificuldades no equilíbrio estático e dinâmico, alterações na coordenação motora global e fina, alterações no esquema e imagem corporal, problemas na lateralidade, dificuldades na orientação no espaço e no tempo, entre outras.
- Psicomotricidade Relacional
A Psicomotricidade Relacional centra-se na componente psicoafectiva e relacional. Permite facilitar a gestão emocional, a regulação de comportamentos e a adaptação a diferentes contextos. A intervenção baseia-se no jogo espontâneo e simbólico que permite à criança espelhar as suas emoções, expressar os seus conflitos relacionais e ultrapassar bloqueios existentes. Através do lúdico, a criança consegue revelar, de modo natural, o que se passa no seu mundo interior e, cabe ao psicomotricista decifrar a linguagem lúdico-corporal e facilitar a expressão simbólica. Assim, o psicomotricista, através da compreensão da forma como a criança vive as suas emoções e a partir da compreensão da origem de determinados comportamentos, ajuda-a a regular as suas emoções e comportamentos de forma segura e adaptada ao meio envolvente.
A Terapia Psicomotora Relacional está indicada para bebés, crianças ou jovens que revelam dificuldades na regulação emocional e comportamental (ex.: inibição, passividade, agitação psicomotora, agressividade, comportamentos de oposição e de desafio, impulsividade, etc.).
Modelo D.I.R.®/ Floortime™
O afeto e a relação têm um papel fundamental no desenvolvimento da criança. Ao unir essa preocupação com a saúde mental, os pesquisadores norte-americanos Stanley Greenspan, MD e Serena Wieder, PhD criaram um método terapêutico que ajuda crianças que apresentam alterações na relação e na comunicação, incluindo a Perturbação do Espetro Autista.
O modelo D.I.R.® baseia-se no Desenvolvimento Funcional Emocional da criança, nas suas diferenças Individuais e na Relação e tem como objetivo a formação de alicerces para as competências sociais, emocionais e intelectuais.
Este modelo de intervenção global integra a abordagem Floortime (tempo de chão) na qual, o especialista (num ambiente terapêutico baseado no jogo, na relação e no afeto), promove o desenvolvimento emocional, social e intelectual da criança tendo em conta o seu nível de desenvolvimento e características individuais de como recebe e integra as informações do envolvimento. Nas sessões Floortime, o terapeuta segue os interesses da criança, ajudando-a a utilizar as suas próprias competências e, ao mesmo tempo, desafia-a para níveis mais complexos de comunicação e de pensamento abstrato.
Apoio Psicopedagógico Específico:
O Apoio Psicopedagógico Específico é recomendado para crianças em idade escolar com dificuldades na aprendizagem da leitura, da escrita e/ou da matemática.
Alguns exemplos de dificuldades na aprendizagem:
- Leitura: leitura lenta, silabada ou penosa; adição, substituição, omissão e inversão de letras, sílabas ou palavras durante a leitura; e, dificuldade na compreensão leitora.
- Escrita: erros ortográficos, gramaticais e de pontuação frequentes e desadequados para nível de escolaridade; caligrafia irregular; e, dificuldade em compor textos escritos.
- Matemática: erros de adição, substituição, omissão e inversão de números; dificuldade nas operações matemáticas; dificuldade de compreensão da linguagem matemática e dos símbolos; dificuldade em resolver problemas matemáticos; e, dificuldade na aquisição e utilização de regras, fórmulas e sequências.
Após a avaliação realizada nesta consulta e identificação das áreas de dificuldade da criança ou diagnóstico de Perturbação da Aprendizagem Específica (Dislexia, Disortografia, Disgrafia e/ou Discalculia), é definido o programa de intervenção psicopedagógico que tem como principais objetivos: promover do desenvolvimento da leitura (descodificação e compreensão leitoras), da escrita (codificação e composição escritas) e/ou da matemática (numeração, cálculo e resolução de problemas), assim como, a aquisição de métodos de estudo e de métodos facilitadores da aprendizagem.
Independentemente das dificuldades identificadas ou do diagnóstico clínico, esta consulta também comtempla a monotorização do desenvolvimento, da aprendizagem e do comportamento da criança ou jovem, através de momentos de reavaliação, permitindo reajustar os programas de intervenção e responder às necessidades específicas de forma contínua.